APRESENTAÇÃO
O
Dicionário de Etimologia procura mostrar a origem das palavras,
junto com seu significado. Sendo em ordem alfabética, ele contém
182 verbetes, que são utilizados na cultura potiguar. Seu formato
está organizado da seguinte maneira: um termo (palavra), seguido
pelo seu significado, apresentam ou não uma estrutura (prefixo,
radical, sufixo), contém a origem seja ela do Grego, Latim,Tupi,
entre outras e em alguns casos apresenta uma história ou hipótese
sobre a palavra.
Produzido
por alunos da oficina de Ciência e Comunicação do CEC - unidade
Natal-RN, este dicionário mostra algumas palavras do vocabulário
potiguar, que através de pesquisas conseguimos descobrir suas
origens. Ele serve para as pessoas saberem de onde vem esses termos,
pois os próprios potiguares usam e na maioria das vezes não sabem
como surgiram ou quem as inventou.
A
ABESTALHADO: desatento. Radical: Besta ( que vem
do estúpido), Sufixo: ado (que em
de um resultado de uma ação). Sua origem vem do grego balístas, derivado de bálló:
‘atirar, lançar, derrubar.
ABILOLADO: Pessoa desatenta, doida. Registrado no português desde o século XVI,
correlato ao espanhol vitola (1831).
ABUFELAR: Brigar. Radical buf.
Usado em palavras do século XVI em diante,
conexas com o vocábulo bufar: assoprar.
ACABRUNHAR: Desanimar. Do latim Caprôneare:
baixar a cabeça, conservar a cabeça baixa.
ACOITAR: Ajudar, dar guarida. Que vem do
latino coìtus: ação de juntar-se, unir-se; casamento; cópula’, do
radical de coìtum: ir
juntamente ou em companhia, reunir-se.
ACUNHAR: Correr, perseguir. Provavelmente vem do radical cunh, do latim cunèus: cunha; formação de batalha, em
forma de cunha.
AFUNLANHAR: Desorganizar, remexer. Vem do latim lanìo: rasgar, dilacerar
(com as unhas, as garras, os dentes), despedaçar.
ALOPRAR: Exagerar, se irritar. Que vem da
palavra lorpa, que significa aquele que demonstra falta de cortesia, de urbanidade, de
civilidade, que ou quem denota rudeza; grosseiro, boçal.
AMANCEBADO:
Juntar-se,
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juntar. É uma variação de amasiado, que vem
do latim amo: amar, querer bem;
fazer amor; estar apaixonado.
AMOJADO: Prenha, grávida. Talvez
do latim emulgèo: tirar
leite, mungir, ordenhar’.
AMOLENGADO: Pessoa frouxa, mole. Prefixo a (aproximação, direção), radical moleng (molengo, mole), sufixo ado (resultado de uma ação).
AMUADO: Com raiva. Radical amuo (desanimado, cansado), sufixo ado (resultado de uma ação).
AMUNTAR: Montar. Prefixo a (aproximação, direção), radical montar (subir, colocar-se em cima), sufixo ar (ação). Vem do francês monter.
ARENGA: Pequena briga. Provavelmente do germânico, harihrings: reunião do exército. Do
qual teria resultado arerenga.
ARROCHADO:
Pessoa de coragem. Lembra possível relação com garrocha, garrocho. Do português garrote:
arrocho, pedaço de pau curto com que se torcem cordas usadas para apertar.
Do francês garrot: garrote.
ARRUDIAR:
Dar voltas. Variação da
palavra arrodear. Do latim, rota,ae:
roda (de carro, de oleiro, hidráulica, de suplício). Usado em todas as
épocas.
AZALADO: Azarado, sem sorte. Do árabe az-zahr: flor, dado. Porque se pintava uma flor numa das faces do
dado, o que acabava gerando azar.
|
B
BAGANA: Comida rápida, biscoitos,
chocolates. Do Latim bacca: fruto
miúdo, bola, tudo o que tem ou lembra
a forma de uma baga.
BAMBO: Por acaso, acertou o alvo no bambo. Derivado do radical bab/bamb, ligado à linguagem infantil: que anda
instável, ginga, balança, ocorre por acidente ou acaso.
BANDÊRA: Dar conhecimento. Que vem da
expressão “Dar Bandeira” deixar
escapar algo que não podia ou não devia ser divulgado.
BANDO: Muita gente. Do Latim bandus: grupo de pessoas que foram
banidas de um lugar, isto é, que sofreram um ato legal de expulsão por seus
crimes.
BELELÉU: Sumir, desaparecer. Vem do banto,
que constituem um grupo etnolinguístico
localizado na África. E era empregada pelos escravos negros para dizer que
alguém tinha ido para a região dos mortos.
BESTA: Orgulhoso (a). Do
Latim besta: animal selvagem ou domestico, de preferência animal feroz.
BILOCA: Bola de gude.
Vem de
loca. Do latim loca, õrum: sinônimo de
toca.
BIRRENTO: Teimoso, zangado. Do
espanhol birria, provavelmente do latim verrea: porco
não capado, barrão. Com evolução de sentido para 'capricho, teimosia' pelas
características do animal.
|
BOYZINHA: moça adolescente. A palavra vem da influência
americana em Natal durante a II guerra mundial.
BRENHA: lugar longe. Vem do pré-romano, provavelmente celta brigna: monte, altura.
BUBU: chupeta. Trombeta de casca de
árvore dos índios Ticunas.
BUCHO: estomago. Origem expressiva,
ocorrente no português bucho,
paralelo a tantos outros das demais línguas (it. buzzo, al. butze, hol.
butse, esp. buche etc.), com o significado de barriga, estômago, ventre.
BULIDA: mulher que perdeu a virgindade. Vem
do latim bulio: ferver, agitar,
irritar.
BUTUCA: olhos. Vem do tupi mu’tuka: mosca da família dos
tabanídeos
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C-D
CABAUÊTA: dedoduro. Do espanhol alcahuete (1251), este do árabe al-qawwâd: alcoviteiro.
CABRA: sujeito,
indivíduo. A palavra "cabra", no significado aqui relacionado, vem
da influência do português falado no Nordeste brasileiro nos tempos de
colônia. O popular "cabra da mulesta", por exemplo, vem de cabra da moléstia que vem de cabrão' da moléstia. Moléstia: coisa ruim, perigosa, doença.
Já cabrão, em Portugal, é o mesmo
que homem ruim, mais comumente safado.
CAÇOTE: sapo
pequeno. Vem da língua africana kimbongo: kazote diminutivo de dizote que significa rã.
CACUNDA:
pescoço, nuca. Da palavra corcunda que
acredita provir da língua africana kimbongo. ka + rikunda que significa costas.
CAMBADA:varias
pessoas. Cambada vem do termo camba:
indios que não trabalhavam e que não tinham utilidade.
CANGAIA:
cela de madeira. Que deriva de cangalho. Do celta cambìca:
madeira curva.
CANINGA: Pessoa que insiste
muito. Do kikongo Kininga: nome de um inquice que faz
emagrecer.
CARITÓ: Mulher que não se
casou. Origem Tupi-guarani que Cari é relacionado a homem branco. Nesse caso
a mulher ainda não se casou com um homem branco.
CATINBOZEIRO: pessoa que pratica catimbó. A origem do termo catimbó é controversa, embora a maior
parte dos pesquisadores afirme que deriva da língua tupi antiga, onde caa significa floresta e timbó refere-se a uma espécie de
vem
de uma variante local do verbo "catar". Dizem que as pessoas
diziam: Para onde você vai? Vou para o lugar onde dá para cachar
peixes-pregos. O uso corrente transformou Cachar Pregos em Cacha Pregos. Ou
mesmo, Cacha Prego. Tornou-se uma expressão popular para denominar um local
remoto, talvez inalcançável. Exemplos: “Para lá de Cacha Pregos”.
CIPOADA: Pancada forte.
Cipó que vem de galhos das árvores com o sufixo ada que tem o sentido de ação.
CEROTO: Sujo. Vem do latim
cerótum: pomada ou ungüento composto de cera. Do grego kérótós: melado
de cera, misturado com cera.
COCOROTE: Cascudo. Vem do
Latim cucutiu:
touca.
CONFABULAR: Conversar, trocar
idéias. Do latim Confabùlor: conversar.
CONFEITO: Balas, gomas de
mascar, doces. Do italiano confètto:
pequeno doce.
COTÓ: Coisa pequena. Do latim cultèllus: pequena faca.
CRUZETA: Fazer algo ilegal,
por debaixo dos panos. Vem do Latim crux.
Neste caso pessoas que “cruzetam” serão crucificadas pelo que estão fazendo
CURIAR: Espiar, olhar. Vem
do latim curiósus: cuidadoso, diligente, que busca, procura com
cuidado, desejoso de saber, curioso, indiscreto, imprudente.
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torpor que se assemelha à morte. Desta forma, catimbó seria a floresta que conduz ao torpor, numa
clara referência ao estado de transe ocasionado pela ingestão do vinho da
jurema, em sua diversidade de ervas. Outras teorias, porém, relacionam o
vocábulo com a expressão cat, fogo,
e imbó, árvore, neste mesmo idioma. Assim, fogo na árvore ou árvore
que queima relataria a sensação de queimor momentâneo que o consumo da
Jurema ocasiona.
CATIRIPAPOS:
pancadas, socos. De provável origem banta talvez de rongaxipapa: palma da mão.
CATOMBO: inchaço,
calombo. Provavelmente de origem africana banta.
CATREVAGEM:
tralhas, feio ao extremo. Do latim caterva: corpo
de infantaria, batalhão, tropa; multidão, bando, chusma; montão de palavras
baixas'.
CAVILOSO: Fingido,
artimanha. Do latim cavillósus: irônico, malicioso.
CAXAPREGO: Lugar distante.
Vem no nome de um vilarejo chama Caixa-Prego, na Bahia. A origem do nome da vila tem relação com a
atividade de pesca. Nas proximidades do vilarejo, nas marés baixas formam-se
piscinas rasas que antigamente costumavam aprisionar grandes cardumes de
peixe-prego. Os pescadores podiam então com facilidade pescá-los, mas não era
necessário utilizar anzóis e outros equipamentos. Costumava-se pegar ou cachar com as mãos. O termo utilizado
DESAPRECATADO:
sem cuidado. Prefixo des que significa negação, afastamento. Radical
aprecata é uma variação de alpercata que vem do árabe al-balga
ou al-bulga: chinela, babucha. Sufixo ado que indica resultado de uma ação.
DESCANSAR: ter nenê, parir. Prefixo des que significa movimento para baixo.
Radical cans do grego kámptó que significa dobrar. Sufixo ar que indica uma ação que se
repete.
DESEMBUCHAR: confessar rápido. Prefixo des que significa afastamento, negação. Embuchar
é uma
variação de buch corrente no português
bucho, paralelo a tantos outros
das demais línguas (italiano. buzzo, alemão. butze, holandês. butse,
espanhol. buche etc.), com o significado de 'barriga, estômago.
DESIMBESTAR: correr de repente. Vem
do latim balísta:
máquina bélica usada na Antigüidade para lançar pedras e atirar dardos.
DESMINHUNÇAR: minuciosamente.
Variação
da palavra esmiuçar que vem do
italiano Sminuzzare: reduzir a
pequenos pedaços.
DESTABACAR: correr em disparada. Vem do árabe
istatâl: alargar-se, encompridar-se, estender-se.
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E-F
ESBAGAÇAR: Em caco, triturado, só o bagaço.
Prefixo es- que significa movimento para fora. Radical bagaço, do Latim bacca:
tipo de fruto.
ESCACAVIAR: Cascavilhar, procurar, revirar.
Variação de cascavilhar. Do latim Caccàbus que significa panela, caçarola, frigideira. Já na
Antigüidade, se empregou para designar chocalho, cascavel.
ESCAFEDER: Fugir, ir embora. Prefixo es- que significa movimento para fora. Prefixo
pejorativo ca- + feder que
significa cheirar mal. Origem controversa
ESCANCHADO: montado. Do latim exquassiare
que significa separar de meio a meio, alargar as pernas, quando se monta a
cavalo ou à maneira de quem o faz.
ESTRIBADO: pessoa com muito dinheiro.
Originado da palavra estribo do
Latim strepum, espécie de aro de
metal, madeira ou sola que prende de cada lado da sela e que é utilizado como
ponto de apoio para o pé do cavaleiro. Antigamente pessoas que possuíam um
estribo eram consideradas pessoas
estribadas, ricas.
ESTRIBUCHAR: se debater, contestar, recorrer. Vemda
palavra francesa trébucher:
que quer dizer, fazer cair.
ESTRIPULIAS: travessura, embrulhada, desordem.
Do grego eutrapelia: brincadeira
inofensiva.
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FOLOTE: que tem folga. Radical fole:
sanfona flexível e opaca encontrada em certas
câmaras ou instrumentos musicais.
FUBENTO: desbotado, muito desgastado. Do
quikongo fufuba: confuso.
FUÇA: rosto, cara. Variação de focinho. Do
latim faucinu.
FULÊRO: Safado, furão. Do espanhol fullero:
pouco útil, atamancado. Ou, segundo Nei Lopes, relacionado com a raiz ful- de fulecar. Do Quicongo mufulu: pessoa que perdeu tudo.
FUNGAR: cheirar, aspirar. Do Quimbongo kafunga
que significa, farejar
FURDUNÇO:algazarra, desordem. Do quikongo ma-fulu
+ nguzu: cólera, força.
FUTRICA: intriga, fofoca. Do francês foutriquet (1791): homenzinho
insignificante de que não se faz caso.
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G
GAIA: Traição, adultério. Variação de
Galho. Que no Latim é escrito como galleus.
Palavra que se refere aos ramos de uma árvore.
GAIATO: Rapaz travesso. Em 1858 era conhecido como Gaiáto. Vem do Francês Gai:
jovial, alegre.
GALA: esperma. Em diversos municípios do
norte-nordeste essa palavra é usada para definir, espermatozóide. “Gala, galar,
galado”. Dependendo do contexto e da entonação da frase que contém a
palavra muitas interpretações podem surgir. Galado pode ser algo engraçado:,
hilário: "que bixooo galadoo!" É uma expressão comum em Natal/RN, para designar uma figura
engraçada, hilária, que acaba de exagerar uma brincadeira.
GALALAU: De gigante e varapau. Passou a ser
conhecido através de um personagem chamado de Ganelon, do poema francês Chanson de
Roland, que se teria
transformado, na versão portuguesa, em Ganelon ou Galalão.
GALEGO: indivíduo louro. Referente à língua falada na Galiza
(Espanha): característica típica dessa região ou de seu povo.
GARAPEIRA: espécie de rancho, em beira de
estrada, onde os tropeiros, mediante pagamento, obtêm garapa e alimento para
seus animais e eventualmente recebem hospedagem. Garapa + eira.
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GASGUITA: que ou quem tem voz esganiçada ou
fala muito alto. Radical expressivo gasg-, presente em engasgar,
gasganete, etc.
GASTURENTA ou
(GASTURA): mal
estar, arrepio. Vem do Grego gastêr, gastrós: ventre, estômago.
GAZEAR: faltar,
matar aula. Quem vem de Gazeta.
Nome dado a vários jornais. Pelo fato do jornal “circular”, passou ter o
sentido de gazear, como “circular” e não assistir aula. Provavelmente tem
origem na Itália.
GODELA:
tirar vantagem sem pagar. Vem de gauderiar (gaudério + -ar). Do latim
gaudério: homem de má vida.
GOELA: Garganta. Vem do latim gulella:
esôfago, garganta.
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I
IMBIOCAR: Entrar sem licença. Variação de bioco. Do latim veoco ligado ao latim vélum,i:
pano, manto, véu, cobertura, disfarce, dissimulação.
IMENDAR ou EMENDAR: juntar, unir,
consertar. Vem do Latim emendo:
defeito físico. Ou menda,ae: erro de escrita.
IMPAIÁ ou EMPALHAR: atrapalhar, impedir. Vem do Latim palh-
que significa. desempalharão, desempalhado, desempalhado,
desempalhamento.
IMPIRIQUITAR ou EMPETECAR: Mulher enfeitada, assanhada.
Regionalismo Brasileiro, para os indígenas é uma espécie de toucado que se fazia com cabelo
postiço.
INFREGAR: Esfregar, coçar. Sufixo: ar, ação que se repete. Do Latim exfricare:
esfregar, tirar esfregando.
INFESADO: Raivoso. Sufixo: oso, qualidade em excesso. Isso surgiu
no tempo da escravidão: os prisioneiros faziam suas necessidades em barris
porque eles não tinham banheiro. Quando o barril enchia, eles escolhiam os
prisioneiros, mais fortes e comportados, para levar o barril, porque quem
fosse levar o barril podia banhar no rio, e naquele tempo eles só tinham
direito de banhar uma vez por mês. Quando eles levavam o barril cheio de
fezes, as fezes caiam neles e eles
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falavam que estavam enfezados porque estavam cheios de
fezes e estavam estressados, nervosos.
INGUIÁ: Engasgar, sentir vontade de
vomitar. Variação da palavra engulhar. Radical gul-. Do Latim gùla,ae:
parte da boca pela qual se
engole.
INGRISIA: Coisa difícil de entender. Prefixo
in, negação. Radical ingrês.
Sufixo – ia. É possível relação com o vocábulo português engrimanço
ou ingrimanço: confusão no falar.
INHACA: Fedor de suor. Vem do Tupi yakwa
que significa “odoroso”.
INTICAR:
Provocar, desafiar. Variação da palavra enticar. Do latim vulgar intaedicare:
causar tédio.
INVOCADO: Pessoa com raiva. Prefixo: in, negação. Do latim: invocátus. Particípio do passado de
invocáre: chamar, chamar
em socorro.
ISGUELAR: Falar alto, gritar. Sufixo: ar, ação que se repete. Variação da
palavra esgoelar. Do Latim gùla,ae: parte da boca pela qual se engole.
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J-L-M
JERICO: Pessoa sem inteligência. Há quem relacione ao latim gèro,is,gessi,gestum,gerère: andar com, trazer em cima do corpo. Nei Lopes, comparando com o Umbundo ndjiliko 'direção, caminho', acredita ser de origem banta.
LANGANHO:
Resto, sobra. Do português laganha, que Corominas relaciona ao castelhano legaña.
LAPADA:
Bofetada, batida. Do português lapa: grande
laje que forma cavidade, gruta, caverna, cova.
MÔCO: Surdo,
que ou aquele que não ouve ou ouve muito pouco. Derivação de mouco. Vem de mocho que significa mutilado, animal de chifres, a que se
cortaram as pontas. Sem cornos, que tem falta de algum membro.
MÓI: Feixe. Derivado de molho que
significa feixe, penca. Que vem do latim manucùlus ou manùclus,
alteração de manupùluss: punhado, feixe.
MOLE: Que tem
má sorte, azarado. Do latim mollis: flexível, macio, delicado,
fraco.
MUFINA: Desanimada. Do espanhol mohino,
do século XV: desgostoso,
pesaroso. Talvez do árabe muhim: malsão, posto a perder.
MUFUMFA: Dinheiro, possivelmente ligado ao Quicongo
fumfa: bater. Ou fumfu: bater as mãos. Quicongo também conhecido como cabinda, é uma língua africana falada pelos bacongos nas
províncias de Cabinda, do Uíge e do Zaire, no norte de Angola.
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MULESTA : coisa ruim. Derivado de moléstia vem do latim moléstia: dificuldade; pena, pesar, inquietação, enfado. Do século XV molesta, 1593 molestia.
MUNDIÇA: Povo,
gente. Do latim immunditìa: impureza, sujeira; em 1536
immundiçia, 1557 immundicia, 1559 ymundicia.
MUNGANGA: Performance. Vem do quicongo, Moganga: imagem antropomórfica que representa uma força
sobrenatural. Usada em rituais de cura, por sua expressão facial.
MURIÇOCA: Pernilongo, mosquito. Do tupi mberu'soka:
pernilongo, formado do tupi mbe'ru: mosca; soka: que quebra,
que parte, que fura. Há também meruçoca, moroçoca, muruçoca,
de 1877 muriçoca, 1888 murissoca.
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O-P
OTÁRIO: Sujeito bobo, leso. Derivado de otaria, o mamífero pesadão e estúpido, encontrado nos mares do sul.
PAIA:
Mulher feia. Derivado de palha que pode
representar uma coisa de má qualidade
ou um objeto ruim. Do Latim palea:
palha.
PAPAR: Comer, pegar, receber,
ganhar. Do Francês pépin; de uma palavra latina pappa, que originou o papar.
PAPUDIN: Bêbado, alcoólatra. Do Latim pap: comer. Papar + udo + inho.
PARÊA: Par, dupla, Variação
de páreo. Do latim pariare: igualar.
PEIDO: pum, flatulência. Do Latim pedìtum: ventosidade.
PÊIA: Bater em
alguém, correia, chicote. Do latim pedea: laço que prende os pés,
armadilha, grilhão para os pés.
PEBA: Ruim,
de má qualidade. Do tupi pewa ou bewa: chato, plano, liso, largo,
achatado.
PABULAGEM: Contar vantagem,
vangloriar-se. Do Latim pabùlum: pasto, forragem,
alimento. A idéia de alimento está ligada a idéia de confiança.
PENOSA: Galinha. Do Latim penna, ae: asa.
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PENSO: Torto, inclinado. Do Latim pensus: 'inclinar'.
PEGUENTO: Suado, suarento, pegajoso.
Do Português peg: pegar. Sufixo + ento: quantidade em excesso.
PIA: Veja, olhe. Variante de
espiar. Do Francês spehôn.
PINOTE: Salto, pulo, cabriola. Provavelmente do Latim pinus: posição vertical do
corpo (com a cabeça para baixo sobre as palmas da mão).
PINGUÇO: Bêbado. Provavelmente do Latim pendó,pensum,pendère: estar suspenso, ser suspendido.
PITOCO: Coisa pequena. Do grego píthos: tonel ou jarro para vinho.
PIXOTOTINHO:
Coisa pequena. Vem da palavra pixote, do cantonês pe xot: 'Não sei'. Expressão de um jogo usado em
Macau na China.
PRACATAS: Sandália. Variação da
palavra alpercatas. Vem do Árabe. Al-balga ou al-balga:
chinela, babucha.
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Q-R
QUARAR: Clarear roupa ao sol. Latim color, óris: cor, pigmentação cromática.
QUARTINHA: Recipiente pequeno de
barro para água potável. Vem do inglês quart.
QUENGO: Cabeça. Do Quicongo: kienga: tacho. O uso
do termo pode ser pelo fato do tacho ser carregado na cabeça.
REBOLAR: Jogar em algum lugar.
Re- + bol (a) + - ar. Do latim bulla,ae
'bolha, empola que faz a água quando é movida ou ferve, bola, bolinha
de penduricalhos, bolsinha pendurada ao pescoço como talismã ou contra
mau-olhado.
RANGO: Comida. Radical rang que
vem
do latim ringor, èris:
arreganhar
os dentes.
RELAR: arranhar. Do latim
rallum:
pisando ou triturando.
REMELA: Sujeira no olho. Vem do castelhano mellar.
REMOER: Repetir, mexer. Prefixo
re: repetição. Radical moer:
ação repetitiva: reduzir a pó.
| REMOSO: Sujeito a doença. Sufixo oso que indica doença
ROLÉ: Passear. Do francês roulê.
Do latim tardio rotella, diminutivo
de rota roda.
RONCEIRO: Lento, devagar. Do
espanhol roncería (1399).
RUELA: Dinheiro. Do latim rotella,
diminutivo
de rota 'roda'.
RUMA: Muita coisa. Vem do
árabe
rizma 'pacote,
embrulho'.
|
S-T
SAMBUDO: Criança pequena. O termo é encontrado no cordel Proezas de
João Grilo, de João Ferreira de Lima, publicado em 1948.
SAPECAR: Jogar em. Provavelmente relacionado ao tupi sa'peka: chamuscado.
SIBITE: Pessoa pequenina. Pássaro encontrado na caatinga também
chamado de guaturamo. Do tupi katu'rama: o que está bom. Que se explicaria pelo fato de o pássaro
tornar-se um excelente cantor quando engaiolado. Em natal diz-se pessoa de
perna finas, comparando-se com o pássaro.
SUBEJO: Resto sobra. Variação da palavra sobejo. Provavelmente relacionado ao
latim super: sobre.
SUVACO: Axila. Variação da
palavra sovaco.
Provavelmente do
latim subála, ou subaláris,
que
significa “estar
sob a asa”;
Que se coloca debaixo do
braço.
TALAGADA: Gole de bebida alcoólica que se
toma de uma só vez. Vem da palavra taleiga, antiga medida para azeite e
cereais (1721).
TAMPO: Coisa ruim. Pedaço de pele
arrancado. No nordeste era usada como palavra que definia pedaços de peles de
rês mortas, que cheiravam mal.
TERREIRO: Quintal. Vem do Latim Terrarius, relativo à terra solo Ou
substantivo Terrarium: área de
terra batida ou calçada elevação de terra.
TESTO: Tampa de panela. Vem do latim testu que
significa tampa de barro para vasilha da mesma substância.
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TORAR: Quebrar, romper, cortar. Radical toro do latim tórum ou tórus: corda
pequena, pedaço de corda. Sufixo ar,
que indica uma ação.
TRAQUE: Peido. Vem do Latim crepitus: ruído, sonido.
TRISCAR: Tocar de leve. Vem do gótico thriskan: debulhar, trilhar, roçar.
TROÇO: Coisa. Provavelmente se relacione
com francês antigo e dialetal trous:
tronco de planta.
TRONXO: Torto. Do Latim trunculus que sig. Extremidade de um
membro.
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V-X-Z
VENTAS: Nariz. Vem do Latim ventãna: lugar por onde passa o vento.
VENTO: Peido. Vem do Latim ventus.
VEXADO: Apressado. Vem do Latim vexátus: agitado.
XABOQUE: Pedaço. Vem do português Chambão (sXVI), registrados nos
dicionários geral como ‘osso com pouca carne’.
XANHA:Coceira na pele. Provavelmente
derivado de sanha que vem do Latim insania,ae: loucura furiosa.
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ZAMBETA:De pernas tortas. Do Latim vulgar Strambus pelo Latim culto Strabus: vesgo, olhos tortos.
ZONA: Bordel. Vem do grego zones: cintura, região do corpo onde
se localiza a cintura.
ZURETADO: Nervoso. É uma variação de azoretar que é uma redução da
expressão “casa de orates”. Orates
vem do espanhol orate, que significa
louco.
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Essas palavras ocorrem também em todo o interior e capital cearense, com os mesmos significados e pronúncia (exceto, lógico, no caso do [t] tipicamente potiguar).
ResponderExcluirOlá Joao. Obrigado pelo comentário. Com certeza são palavras típicas da nossa linguagem nordestina. O maior propósito desse trabalho foi resgatar não somente o significado, mas sobretudo a etimologia desse termos. Onde verificamos a influência indígena, africana, latina, árabe, entre outras.
ResponderExcluirO mais importante é fazer esse levantamento da nossa cultura e firmar nossa identidade nordestina.